27/10/2020

A solução vencedora do concurso de concepção para a requalificação da Praça da Corujeira e da sua envolvente foi hoje formalmente apresentada ao Executivo Municipal pelo arquiteto Miguel Melo, do atelier Miguel Melo Arquitetura, em Guimarães. Além dos dois hectares de espaço verde a intervencionar, o projeto que assume como "elemento primordial" a valorização da estrutura arbórea pré-existente e dos seus icónicos plátanos, aposta ainda numa estratégia de mobilidade sustentável, compatível com a fruição do parque por toda a população. A ligação ao Matadouro faz igualmente parte dos planos de um programa que impulsiona a reconfiguração urbana do eixo central de Campanhã.


O "trabalho começa agora", disse no final da apresentação o vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, explicando que o projeto nasce de uma ideia que o Município pretende ver concretizada para a Corujeira, mas que terá agora de ser afinada e maturada.


Por esse motivo, a autarquia avança desde já com a construção de um parque infantil na praça, que deve ficar concluído durante o próximo ano, para que a população faça uso do equipamento enquanto as obras não avançam, antecipou, por sua vez, o vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, responsável pelo Pelouro da Inovação e Ambiente.


Mas se é certo que o caminho a percorrer ainda é longo - tanto que Pedro Baganha antecipa que "o Matadouro vai andar mais depressa do que praça fronteira ao mesmo", tendo em conta que o projeto vai implicar "uma reflexão" sobre a reconfiguração urbanística de toda a envolvente, incluindo a Rua de São Roque - facto é que este "conjunto de ideias" tem pernas para andar.


Produzido por uma equipa técnica pluridisciplinar, liderada pelo arquiteto Miguel Melo, "seduziu o júri do concurso", desde logo pela "perceção da massa arbórea como mais-valia", sinaliza o vereador do Urbanismo. Fator, aliás, escalpelizado pelo autor do projeto, que na sua intervenção sublinhou que "os plátanos mantêm-se como a referência e a centralidade" de um projeto que tem como um dos seus principais objetivos "preservar a manutenção paisagística existente, bem como melhorar a qualidade ambiental nos arruamentos contíguos ao parque".


As questões ambientais fazem efetivamente parte do núcleo de um projeto que "sempre que possível vai procurar promover a permeabilidade do solo na área de intervenção", bem como "a criação de espaços verdes com necessidades de manutenção e consumos de água reduzidos".


Mas não só. Na Praça da Corujeira e envolvente estão identificados "problemas sociais, a degradação do espaço público, constrangimentos viários, que objetivamente foram condicionando a vivência social, económica e habitacional", referiu o arquiteto. Razão pela qual o projeto surge da necessidade de preservar, requalificar e revitalizar. Contudo, "preservar não é musealizar", atestou o responsável, referindo que há que fazê-lo "com ideias assentes na valorização do património local e potenciando a ligação à malha envolvente, não descurando as novas dinâmicas urbanas previstas para este território".


É nesse sentido, por isso, que na área bruta com cerca de 23.612 metros quadrados (mas com área de intervenção de aproximadamente 44.450 m2), a solução que venceu o concurso de ideias tem também um forte pendor na "promoção de acessibilidades para todos". Neste aspeto, a equipa de projetistas propõe aproveitar os eixos de ligação pedonais existentes, que serão "privilegiados, melhorados e alargados, não descurando também as ligações visuais" que se possam vir a formar, pois do estudo previamente feito in loco, informou o responsável, ficou a saber-se que existe uma grande franja da população que utiliza a praça como eixo de atravessamento.


"Propõe-se o atravessamento da área do parque por ciclovias e a interligação com a envolvente", confirmou ainda Miguel Melo, esclarecendo que é intenção do projeto "minimizar o impacto da circulação viária na área de intervenção". Assim, "as redes viárias serão uniformizadas nas suas dimensões, privilegiando as hierarquias existentes, nomeadamente a ligação da Avenida de 25 de Abril com a Travessa de Ferreira dos Santos e os eixos da Rua das Escolas e da Rua de São Roque da Lameira", detalhou.


Também as passadeiras serão adaptadas aos invisuais e na circundante haverá "zonas 30" (zonas com velocidade máxima de 30 quilómetros/hora), em que se conjugarão automóveis, peões e bicicletas, de modo a contribuir para um outro objetivo: "mitigar as acumulações de tráfego e melhorar a fluidez de trânsito", assim como "baixar os índices de poluição registados".


Quanto ao estacionamento, será "sistematizado" com o apoio da arborização prevista.



Edifício-bar à cota das árvores


No projeto de arquitetura vencedor, inclui-se um novo elemento de construção, que é "o edifício-bar". O equipamento funcionará como bar, café, quiosque e sanitários. Localizado a uma cota superior, "vai comunicar sensorialmente e de forma distintiva com a natureza, misturando-se com ela", ressalvou Miguel Melo.


Por toda a futura Praça da Corujeira, é proposto que a iluminação seja feita "por fios suspensos em postes de ferros a instalar entre a arborização - uma iluminação em ramada, em que a contemporaneidade é inspirada na tradição". Também os plátanos contarão com uma "iluminação cénica".



Ligação entre a Praça da Corujeira e o Matadouro privilegiada


A ligação entre a Praça da Corujeira e a entrada do Matadouro será efetuada por uma artéria que os arquitetos pretendam que seja uma rua pedonável e clicável: "a Rua Nova da Corujeira", nomeou Miguel Melo. Sobre esta questão, o arquiteto adiantou também que será importante "a demolição do muro" da entrada do Matadouro, "de forma a criar uma transparência visual e funcional", propondo, contudo, a manutenção dos pilares dos muros existentes.


O investimento estimado para a "nova" Praça da Corujeira, que incluirá espaços de fruição para toda a população, tendo inclusive previstos áreas para a prática de jogos tradicionais, é de, aproximadamente, 4,4 milhões de euros.

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